Chocolate: o abraço químico que derrete na boca

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O chocolate parece ter um efeito quase mágico sobre o humor. Uma simples mordida é capaz de suavizar o estresse, amenizar a tristeza ou até transformar um dia comum em algo especial. E não é só impressão: o cérebro realmente ama esse doce. Mas por quê?

Sistema nervoso é a paixão por chocolate

A explicação começa na química cerebral. O chocolate é rico em substâncias que vão atuar no órgão, especialmente nos centros de prazer e circuitos de recompensa do nosso sistema nervoso. O consumo desse alimento ativa múltiplas vias neuroquímicas envolvidas na regulação do humor, apetite e do sistema de recompensa. Podemos ressaltar a feniletilamina, teobromina e cafeína. Estes vão exercer exercem efeitos psicoestimulantes leves, ocasionando a sensação de estados de alerta e bem-estar.

Além disso, o chocolate contém n-aciletanolaminas, que ao interagir com o sistema endocanabinoide, ajuda a estimular a liberação de peptídeos opioides endógenos, associados à sensação de prazer. Em paralelo, ele também auxilia a liberação de dopamina, neurotransmissor envolvido na sensação de recompensa, bem como de endorfinas, que ocasionam efeito analgésico natural e proporcionam prazer imediato.

Ou seja, ao saborear um pedaço de chocolate, as mesmas áreas cerebrais ligadas ao amor, ao sexo, à música favorita e até a um abraço reconfortante, são ativadas. Por isso o chocolate é tão presente em datas simbólicas como Páscoa, Dia dos Namorados e aniversários. É um símbolo de afeto e amor — muitas vezes mais emocional do que alimentar.

Ligação com o psicológico

Mas o amor pelo doce vai além da bioquímica. Ele é, também, afetivo e simbólico. Para muitas pessoas, o chocolate nos remete a infância: o doce dado pela avó, o bombom recebido após um dia difícil na escola, a sobremesa do domingo em família. Esses registros emocionais ficam guardados no hipocampo — região do cérebro associada à memória — e se conectam às emoções, como num abraço invisível entre o passado e o presente.

Claro, como psiquiatra, não posso deixar de lembrar da importância do equilíbrio. O chocolate pode ser um grande aliado do bem-estar, especialmente quando consumido em versões com maior teor de cacau (acima de 70%), que possuem mais flavonoides antioxidantes e menos açúcar. Mas, quando usado como válvula de escape constante para emoções difíceis, pode indicar que há algo mais profundo pedindo atenção.

Em tempos de autocobrança, produtividade extrema e estímulos constantes, o prazer genuíno — como o de saborear um bom chocolate — tem sido cada vez mais raro. E, no entanto, é essencial. A saúde mental também mora nesses pequenos respiros de prazer. Conversei com a nutricionista Dra. Adriana Kachani, mestre e doutora pela USP sobre este tema para aprofundar ainda mais, e ela destacou a importância dos de alta qualidade — especialmente o tipo bean to bar, que são feitos diretamente a partir da amêndoa de cacau e sem aditivos artificiais.

Aliado do prazer

Segundo ela, além do sabor mais puro e maior concentração de cacau, esse tipo de chocolate é rico em flavonoides, compostos antioxidantes que favorecem a saúde cardiovascular e ajudam a combater os efeitos do estresse oxidativo. Ela ainda ressaltou que o alimento, por conter peptídeos opioides, estimula áreas do cérebro associadas à sensação de prazer, funcionando como um verdadeiro “acolhimento bioquímico”.

Esse efeito é ainda mais relevante em fases de maior vulnerabilidade emocional, como a tensão pré-menstrual (TPM), além disso, destaca que o alto teor energético e gorduroso acaba sendo preferência das mulheres no período menstrual. Já que, neste período, as flutuações hormonais, que impactam o humor, aumentam a busca por alimentos atrelados ao bem-estar e à energia. Por isso tudo é que, quando consumido com moderação e qualidade, o chocolate pode ser sim um aliado tanto da saúde física,  quanto da emocional.

Portanto, se neste feriado de Páscoa (ou em qualquer outro momento do ano), são motivos para comer chocolate sem culpa, cuidando dos excessos. Vale lembrar que ele não é apenas gostoso, é um abraço químico e emocional que o cérebro reconhece, aprecia e, sim, ama.

Sobre a autora

Jéssica Martani é médica psiquiatra, especialista em TDAH e saúde mental e coordenadora da pós-graduação reconhecida pelo MEC pelo Instituto TDAH e Universidade Anhanguera.

Saiba mais:

https://www.instagram.com/dra.jessicamartani/

https://www.youtube.com/@dra.jessicamartani

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